Stoa 55 / Designers Sensacionalistas
Reflexões sobre pessoas que adoram criar medo e ansiedade na comunidade de design.
Antes de você pular para o conteúdo, confira o que rolou na minha vida desde a última edição da Stoa:
Aulas novas sobre: Paginação, Tabs, Grids & Layouts.
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Tenho feito muitas lives no YouTube.

Algo que me incomoda profundamente na internet — especialmente na criação de conteúdo sobre design — é a compulsão de alguns criadores por usar títulos catastróficos apenas para chamar a atenção de outros designers.
Frases como “UX Design está morto” ou “Já era: a IA vai substituir os designers!” se tornaram cada vez mais comuns. Mesmo quando o conteúdo adota uma visão positiva, o clickbait explora e reforça medos reais de muitas pessoas.
Esse tipo de abordagem gera um ciclo de ansiedade e desinformação que, de certa forma, banaliza o debate de assuntos sérios.
E me pergunto: qual a real necessidade de seguir por esse caminho? Está tão difícil assim conseguir clicks? É realmente necessário alimentar a ansiedade das pessoas? Vale tudo para capturar alguns segundos do tempo dos outros?
Em um país em que mais de 26% da população sofre de transtorno de ansiedade, não me parece uma prática muito saudável1.
O mundo está mudando
Não podemos negar que as mudanças tecnológicas que vivenciamos impactam profundamente a maneira como nós, designers, trabalhamos.
Integrar o uso de IA ao nosso processo criativo será tão natural quanto foi incorporar qualquer outro tipo de ferramenta. Ou você acha que antes do Figma as pessoas faziam interfaces em pedra?
O mundo muda, ferramentas mudam, processos evoluem e a substituição acontece naturalmente para aqueles que não conseguiram se adaptar. Até aí tudo normal. Sempre foi assim.
Mas o que não é normal — ou pelos menos não deveria ser — é a capitalização em cima do medo, insegurança e ansiedade das pessoas.
Criadores de medo e desespero
Em toda grande mudança de paradigma, sempre surgiram pessoas tentando monetizar em cima do medo. E é triste ver que muitos designers também se rendem a esse modus operandi.
Em vez de “UX Design está morto”, porque não falar sobre “O Futuro do UX Design”.
Em vez de “A IA vai tomar seu trabalho”, porque não abordar “Como utilizar IA no Design".
Em vez de “UI Designers vão deixar de existir”, porque não discutir sobre “Como UI Designers podem usar IA em seus processos”.
Existem caminhos melhores. Caminhos mais positivos que oferecem soluções em vez de criar medo, ansiedade e desespero.
Eu entendo que títulos positivos vão atrair menos atenção das pessoas do que chamadas sensacionalistas.
E talvez o argumento dessas pessoas seja “mas se eu não chamar atenção, ninguém vai ouvir a verdade". Mas sejamos honestos, do que adianta falar a verdade se o conteúdo foi empacotado dentro de uma mentira sensacionalista?
Ignorantes com alto falante
Existe também um nicho de criadores de conteúdo que acredita realmente naquilo que seus títulos sugerem. Nesse caso, além de sensacionalismo, fica evidente a ignorância de seus criadores.
Recentemente, li um artigo chamado “Design Isn’t Dead. You Sound Dumb” (O design não morreu. Você parece idiota), em que o autor expõe com precisão que esse tipo de pessoa na verdade nunca entendeu o que é Design:
“Você achava que design era decoração. Uma demão de tinta. Um layout no Figma. Você presumia que, uma vez que estivesse bom, o trabalho estaria feito. Então, agora que a IA consegue gerar uma landing page, você acha que designers estão obsoletos?”.2
Esse tipo de profissional será substituído com muita facilidade e ainda culpará as ferramentas por sua incompetência.
Quando você se deparar com discursos desse tipo, lembre-se que ele é tão raso quanto o conhecimento de quem o criou.
Por uma abordagem mais humana
Entendo que ninguém está totalmente livre de cometer deslizes de vez em quando. Às vezes, foi algo intencional ou simplesmente falta de cuidado. Prefiro acreditar, de verdade, que nem todo mundo acorda pela manhã com a vontade de enganar os outros.
Aposto que, ao longo dos meus 15 anos criando conteúdo, também já usei títulos mais sensacionalistas. Hoje, no entanto, tento pensar duas, três ou até quatro vezes antes de escrever algo que possa induzir as pessoas a pensarem algo que não reflete, de fato, o conteúdo publicado.
Por isso, deixo aqui uma reflexão: da próxima vez que você, criador de conteúdo, publicar um vídeo, artigo ou podcast, que tal optar por uma chamada mais honesta e positiva?
E você, consumidor de conteúdo, que tal começar a refletir sobre isso e cobrar dos seus criadores uma posição diferente? Isso também vale para mim. Quando achar que exagerei, me avise com respeito. Ficarei feliz em mudar sempre que fizer sentido.
Por um mundo mais humano.
Willian Matiola.
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O que achei por aqui
NotebookLM - Uma IA do Google ótima para extrair conteúdos de vídeos e artigos.
FloraAI - designers estão usando essa IA generativa para branding e outras áreas.
Modify - App adquiro pelo Figma para criação de motion design.
Lovable - IA para desenvolvimento de apps via prompt (link de afiliado).
People's Graphic Design Archive - o nome já diz tudo.
ASCII Tool - transforme imagens em ASCII
https://veja.abril.com.br/comportamento/brasil-ocupa-alarmante-papel-de-destaque-na-atual-epidemia-global-de-ansiedade/
https://medium.com/design-bootcamp/design-isnt-dead-you-sound-dumb-4253e50940e7
Muito boa a reflexão. Essa onda de designers e tantos outros profissionais espalhando terror a troco de clique é péssima e de uma ética bem quesitonável.
Por isso, tenho filtrado meus conteúdos para receber qualidade.
Muito bonito esse artigo que você escreveu Willian. Pensar positivo é importante, muita negatividade mata a nossa disciplina.